quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Número de médicos cresce, mas eles estão mal distribuídos pelo país

Número de médicos cresce, mas eles estão mal distribuídos pelo país
Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013



Estudo da CFM e Cresmesp mostra concentração nos grandes centros e critica propostas do governo

BRASÍLIA - O número de médicos no Brasil vem crescendo ao longo das últimas décadas, mas ainda persistem desigualdades regionais, com uma concentração maior de profissionais nos grandes centros e nas regiões mais ricas. Outro problema é a baixa adesão ao trabalho na rede do Sistema Único de Saúde. Segundo registros dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), o número de médicos no Brasil chegou a 388.015 em outubro de 2012, o que dá dois profissionais para cada 1.000 brasileiros. Era 1,15 em 1980, 1,48 em 1990, 1,72 em 2000, e 1,91 em 2010. As conclusões são do segundo volume da pesquisa "Demografia Médica no Brasil: cenários e indicadores de distribuição", do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), divulgada nesta segunda-feira.

A divulgação coincide com a polêmica discussão em torno da facilitação da revalidação do diploma de médicos formados no exterior, que está sendo estudada pelo governo federal e é defendida pela Frente Nacional de Prefeitos e pela Associação Brasileira de Municípios. O objetivo é atrair médicos para atender em regiões onde há carência desse tipo de profissional. Aproposta é repudiada pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e, segundo a pesquisa do CFM e Cremesp, não vai resolver o problema. A pesquisa diz que tanto os médicos brasileiros quanto os estrangeiros em atuação no país seguem a tendência de se fixarem nos grandes centros urbanos, longe do interior.

O estudo também indica que a ideia de instalar cursos de medicina onde há carência de médicos - proposta defendida pelo Ministério da Educação (MEC) - não atingirá seu objetivo. Segundoa pesquisa, a localização das faculdades de medicina pouco influencia a decisão do futuro médico na hora de escolher onde vai trabalhar.

Aí vem o governo, com suas tiradas mirabolantes, suas cartas tiradas da manga. Com efeitos cosméticos, tentam enganar, dizendo que com mais escolas e trazendo médicos de fora, o caso está resolvido. É um equívoco - criticou o presidente do CFM, Roberto Luiz d'Avila, acrescentando:

- Só a faculdade no interior não resolve o problema. Entretanto, eu elogiei a atitude do ministro Mercadante (Alozio Mercadante, da Educação, de tornar mais rígidos os critérios para abertura de novos cursos de medicina). Acabou-se a abertura de escolas para atender o desejo de um deputado, um senador. Acabou um grande grupo empresarial de educação abrindo um quarto, quinto curso de medicina. Isso não é nenhum critério técnico, é critério de apadrinhado. Qual o principal critério que nós entendemos? O critério social, onde não tem escola, mas aí têm que vir outras coisas: rede ambulatorial, hospital para prática dos alunos, corpo docente qualificado. Aí começam os problemas.

De forma geral, diz o estudo, os formados optam pelo trabalho nas capitais e cidades mais ricas. Entre 1980 e 2009, dos 107.114 médicos que se graduaram em uma cidade diferente daquela onde nasceram, 36,8% retornaram à terra natal, sendo que as cidades do Rio e de São Paulo são responsáveis por cerca de um terço desses profissionais. Outros 25,3% ficaram na cidade onde se formaram, a maioria delas no Rio, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Salvador e Curitiba.

- Há uma acomodação nos maiores centros. Eles saíram de Rio, São Paulo (para estudar em outros lugares), talvez fugindo da grande concorrência, e retornam ao grande centro (depois de formados) - avaliou o pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP) Mario Scheffer, coordenador da pesquisa, acrescentando: - Cem cursos foram abertos, muitos no interior, nas últimas três décadas, e não conseguimos perceber uma relação entre isso e a fixação de médicos no interior.

A pesquisa tem como um dos seus objetivos principais chamar o governo federal para o debate sobre a desigualdade de acesso ao serviço médico. Essa desigualdade não será resolvida com o aumento do número de médicos - acrescentou o presidente do Cremesp, Renato Azevedo Júnior.

De 1980 a 2012, houve um aumento de 74% na razão de médicos por habitantes. Isso significa que o crescimento do número de médicos se dá numa taxa maior ao aumento da população. Apesquisa aponta alguns fatores para isso, como a abertura de muitos cursos de medicina. Além disso, a cada ano, há um saldo de 6 mil a 8 mil médicos a mais no mercado de trabalho (número dos que entram, descontados aqueles que deixam de exercer a profissão). A pesquisa também mostra que o grupo de médicos com até 39 anos representa 40,59% do total, o que sugere um tempo maior de permanência no exercício da profissão.

Por região, o Norte é o lugar que proporcionalmente tem menos médicos no país: 1,01 para cada 1.000 habitantes. No Nordeste, esse número é de 1,23. No Centro-Oeste são 2,05 e no Sul 2,09. O Sudeste é a região que concentra mais médicos: 2,67 para cada 1.000 habitantes.

O Distrito Federal é a unidade da federação com maior taxa de profissionais da área: 4,09 por 1.000 pesso.

Fonte: O Globo Online/BR

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